trajetória empreendedora - além do cnpj

A caminho do empreendorismo

Conheça um pouco da minha história

Pra quem não me conhece, me chamo Felipe Cassola, nasci em 08/03/1989 e durante toda minha trajetória sempre cultivei uma vontade louca de empreender, apesar de quando criança não saber exatamente o que era empreendedorismo – nem estava na boca do povo esse termo; mas desde pequeno sempre tive anseio de ganhar dinheiro.

Meus pais sempre me incentivarem a buscar minhas próprias coisas, estudar e fazer cursos, mas nunca foi uma demanda deles que eu abrisse meu próprio negócio, crescesse profissionalmente e ganhasse meu dinheiro. Me lembro de quando criança, ao assistir filmes de luta eu me inspirava como qualquer um da minha idade, mas minha vontade era ter dinheiro pra poder aprender alguma luta e o que mais eu quisesse. “Preciso ganhar dinheiro!” – Esse era meu pensamento.

Com 10, 12 anos pedi para que minha mãe me matriculasse em um curso de biscuit. Pra quem não sabe, biscuit é aquela massinha que pode ser modelada de diversas formas, utilizada muito na decoração. Minha mãe me matriculou, eu fazia uns biscuits feios para caramba (risos) e toda minha família comprava – eu me achava o máximo.

Já aos 15 anos eu e um amigo resolvemos montar um grupo de DJ. Basicamente a gente agitava as festas; compramos uma caixa de som parcelada no cartão de crédito da minha mãe pra pagar mensalmente, fizemos alguns cursos on line, tínhamos um CDJ no próprio computador e começamos a comandar a diversão do pessoal.

Conforme as festas aconteciam nós investíamos o dinheiro arrecadado no próprio negócio, ou seja, comprávamos mais caixas de som, iluminação, máquina de fumaça, até que chegou um ponto que a gente era contratado para festas toda semana; e para aquele momento, para um menino de 15, 16 anos, era um bom dinheiro que eu já estava ganhando.

Posso te ajudar?

Com 16 anos eu entrei na Caixa Econômica Federal como estagiário, na época eu ganhava R$ 390,00. No banco eu fazia um pouco de tudo; aprendi a fazer triagem dos clientes, orientava filas e, principalmente, auxiliava no auto atendimento – era um daqueles caras que usava colete azul com ‘Posso ajudar?’.

Nessa experiência eu percebi uma coisa muito legal; notei que eu gostava da lida com o público, de conversar com pessoas – enquanto outros estagiários evitavam essa tarefa, eu gostava, apesar de ser o trabalho mais cansativo por ter que ficar em pé e devido a pressão natural do próprio ambiente, com muita gente precisando de atendimento. Entretanto, no final do dia eu ficava feliz com o trabalho que eu havia desempenhado.

Por influência do meu gerente – um cara que me ajudou bastante – comecei a vender título de capitalização. Nesse período vi que possuía aptidão para vendas – porque eu conseguia ficar amigos dos clientes que iam lá todo mês – e entregar um cenário bacana para o meu gerente. Na época as vendas eram contabilizadas nas matrículas do meu gerente, porque eu ainda era estagiário.

posso te ajudar

Minha experiência no ramo de comércio exterior

Após essa experiência, tive outros empregos e em seguida comecei a cursar faculdade. Fiz dois anos de Relações Internacionais, mas finalizei mesmo o curso de Comércio Exterior. Foi um curso interessante, principalmente por ter me introduzido neste mercado. Meu começo na área do comércio exterior foi por volta dos 18 anos em uma empresa multinacional, como estagiário. Como era de se esperar, eu ainda cultivava uma vontade louca de crescer e ser o melhor, pois sempre fui muito competitivo.

Nessa empresa, por ser muito grande, existiam vários estagiários, mas eu percebi que poucos realmente tinham ganância, o ‘sangue nos olhos’ de fato; coisa que eu tinha. Essa vontade fazia com que eu sempre procurasse ajuda das pessoas mais velhas e experientes, recebendo um retorno positivo na maioria das vezes – mesmo que precisasse ficar além do expediente para aprender mais.

Quando não era possível ficar por questões alheias a minha vontade, eu saía e esperava na região até dar a hora marcada para voltar e aprender mais. De certa forma, as pessoas mais experientes gostam de ajudar, basta partir da gente essa vontade de aprender e correr atrás. Por isso eu sempre aproveitava as oportunidades que tinha para aprender.

Com essa idade eu era um menino muito inexperiente. Ainda durante meu estágio na Caixa Econômica Federal minha imaturidade me trouxe problemas relacionados à conduta, pois eu era muito travesso. Atualmente, olhando pra trás é até engraçado e me faz perceber que o tempo é um fator importante para o nosso amadurecimento.

Há de considerar que, além da baixa idade eu também tinha pouca experiência profissional e herdei responsabilidades que ainda não dava conta. Por exemplo, apesar de trabalhar com comércio exterior, fui alocado para um cargo onde meu inglês era extremamente exigido, o que gerava muitos problemas de comunicação, infelizmente.

Já trabalhando na parte operacional dessa empresa eu passei muito perto de ser demitido justamente pelo meu jeito brincalhão e brechas operacionais que eu proporcionava. Mas com tudo isso, os clientes gostavam de mim pela atenção especial que eu dava a eles, ou seja, apesar das falhas técnicas, eu conseguia cativar o cliente.

Isso me deu um lampejo de ideia e comecei a pensar que o lado comercial seria interessante para meu crescimento profissional. Fiz um lobby comercial com o departamento de vendas e consegui uma vaga na equipe. No departamento de vendas eu alcancei resultados bacanas, porque eu não dependia de funções operacionais e não me demandava foco extremo, por exemplo.

Inclusive, eu nunca fui uma pessoa 100% focada, de modo que se eu precisasse ficar no computador por 2 ou 3 horas, para mim era um martírio. E até hoje sou assim! Se for preciso fazer uma atividade 100% operacional de poucas horas de duração, eu faço, mas assim que termino preciso dar uma volta e espairecer porque meu cérebro fica muito cansado.

Quando jovem eu não percebia essas minhas limitações de forma tão madura; hoje em dia sei que sempre podemos melhorar sempre (mesmo que nossos limites ainda estejam lá). Em contrapartida, sempre fui um cara conversador, viajador, com muitas ideias na cabeça e com muita desenvoltura para a parte estratégica dos negócios.

Facilidade de vender

Na área de vendas eu me destaquei. Quando eu tinha 20 anos – e uma vontade ainda maior de crescer – percebi que, além de apresentar melhores resultados que meus concorrentes internos – ou seja, que meus colegas de trabalho diretos – eu também tinha boa interação com os vendedores externos.

Apenas para contextualizar: Como vendedor interno eu atendia clientes pequenos e dava suporte a vendedores externos, que precisavam bater metas, visitar clientes, abrir novas contas, ou seja, prospectar; e quando essas vendas exigiam algo a mais – como uma proposta comercial, quem fazia eram vendedores internos, como eu. Ou seja, além de atender os vendedores pequenos ainda dava suporte para os clientes dos vendedores externos da empresa. A equipe possuía um inside sales (um vendedor interno) pra dois vendedores internos.

Nesse meio tempo percebi que os clientes pequenos, por não terem budget elevados, eram preteridos por outros vendedores internos. Eu gostava. ‘Manda pra mim!’. Com o volume de pequenas vendas eu conseguia ultrapassar resultados de vendedores externos da empresa. Isso quer dizer que em alguns meses eu, dentro da empresa, produzia mais lucro que alguns vendedores externos – somente com clientes pequenos.

Minha vontade de crescer continuava grande e queria chegar ao cargo de vendedor externo. Por ser uma empresa com muitos funcionários, percebi facilmente que para chegar a esse cargo eu levaria muito tempo, além de continuar me esforçando muito, pois existia uma fila de espera e uma burocracia típica de empresas multinacionais antes que isso acontecesse.

Além disso, solicitei um aumento de salário, considerando que, dentre os funcionários que desempenhavam a mesma função minha, eu era o que tinha o menor salário. A empresa me negou o aumento, e essa falta de reconhecimento me deixou extremamente chateado, o que me levou a pedir demissão e buscar novas experiências.

Mudando de ares

Em busca de novos trabalhos encontrei uma oportunidade em uma empresa mediana, onde eu tinha acesso fácil ao diretor da empresa – que me criticava muito, mas demonstrava que gostava de mim. Entrei na mesma vaga do emprego anterior – como vendedor interno – porém, com autonomia para prospectar clientes, inclusive clientes grandes. Os clientes que eu trouxesse ficariam na minha carteira, diferentemente do que acontecia na empresa anterior.

Rapidamente eu consegui trazer três ou quatro clientes grandes – que inclusive ficaram por muito tempo no rol de clientes mais lucrativos da empresa. Com esses índices eu consegui colocar o diretor da empresa na parede para me transferir para as vendas externas. Ele não queria essa transição por conta da minha idade e medo de eu não transparecer respeito devido a minha aparência e rosto cheio de espinhas.

Mesmo assim eu insisti. Para botar mais pressão encontrei uma oportunidade em outra empresa e dei o ultimato ao diretor, afirmando que se ele não me desse essa chance, eu pediria minha demissão. Com esse cenário em mãos o diretor resolveu me dar a oportunidade, mas ainda assim com ressalvas:

“Felipe, estou te colocando como vendedor externo porque você exigiu, mas as chances de você se arrepender são grandes, principalmente pela pouca idade e essa cara de menino. Então quero combinar uma coisa contigo. Se você perceber que foi precipitado, ao invés de pedir as contas, vai engolir o orgulho e voltar, vamos achar uma vaga pra você continuar aqui e ganhar experiência para ter sucesso nessa área”.

Eu concordei, mas sai da sala com raiva e prometi a mim mesmo que iria me esforçar ao máximo para fazer aquilo acontecer. Dessa forma eu comecei a trabalhar muito para me destacar ainda mais, inclusive dos meus companheiros de trabalho, que chegavam as 09h da manhã já combinando onde ir na hora do almoço – enquanto eu estava na empresa desde as 06h da manhã, já trabalhando.

Pela manhã eu fazia a parte operacional que o cargo exigia, no meio do dia eu ligava para prospectar clientes e a tarde eu reservava para fazer visitas, muitas vezes retornando para a empresa para adiantar ou resolver algum trabalho – enquanto que meus colegas, depois do almoço se dirigiam para alguma reunião e não voltavam mais.

Isso quer dizer que, mesmo novo e não possuindo as mesmas habilidades que profissionais mais velhos – com 30 ou 40 anos de experiência e know how altíssimo, eu tinha muito mais vontade de crescer, fator que me fez explodir. Era só comparar o tempo que eu começava a trabalhar, a vontade, o empenho, foco e disciplina, de fato posso falar com tranquilidade que eu trabalhava no mínimo 05x mais que todo mundo.

Então, mesmo que eu tivesse menos habilidades e menos resultados, eu tinha muito mais a demonstrar. Era o poder da disciplina. Sempre pensei alto, costumava dizer que quando eu fizesse 30 anos abriria uma franquia do Burguer King – e usaria o tempo disponível até lá para ganhar dinheiro, porque, realmente, eu não tinha grana para isso, não tinha família para patrocinar, não tinha nada.

Voltando à história; como eu disse, tive resultados expressivos e trouxe muito lucro para empresa. Mas ainda assim eu não me sentia valorizado, pois o sistema de comissionamento era péssimo – o que não facilitava para ganhar dinheiro com comissão, ou seja, eu não ganhava com renda variável e meu salário era menos da metade das pessoas com mais experiência.

Pedi um aumento, dessa vez me deram, mas era ridículo! Novamente me senti desvalorizado e pedi minha demissão. Eu era muito nervoso quando jovem e chegava até a ultrapassar algumas barreiras. Nessa empresa tentaram me manter de todos os jeitos, mas como rebelde que era, não cedi.

Foi nesse momento, inclusive, que eu percebi que esse diretor – que me criticava muito – realmente gostava de mim; diferentemente de outro colega que sempre me elogiava mas nem olhou na minha cara quando sai da empresa. Isso me fez refletir uma lição: As vezes as pessoas que gostam de você são aquelas que até te criticam para impulsionar, enquanto que aquelas que batem nas suas costas podem estar sendo apenas falsas.

Mais um aprendizado

trajetória empreendedora - aprendizado

Consegui emprego na terceira empresa de comércio exterior. Era uma empresa grande também, com filiais pelo mundo todo, entretanto, em comparação com as outras duas empresas, essa era menor. Trabalhei por lá dois anos, entre meus 21 e 23 anos de idade. Foi uma experiência magnífica. Olha que coincidência… o diretor da primeira empresa que eu trabalhei fazia parte do quadro de funcionários dessa companhia.

Eu fui convidado para trabalhar lá. Este diretor não me conhecia de fato (apesar de eu conhece-lo), mas ouviu meu nome no mercado e resolveu me fazer um convite. Nessa empresa participei de uma verdadeira escola, sendo orientado por um líder sábio e alcançando resultados muito expressivos.

Entrei na empresa com muita sede e busquei a moral que eu queria ganhar com todos – equipe, diretores, liderança, pessoal da parte operacional; eu tinha reconhecimento legal de todo mundo. Apesar de ser vendedor, eu não vendia, somente. Eu tentava sempre entregar o meu melhor para todas as partes, buscava trabalhar a minha liderança, ampliar meus conhecimentos, enfim, foi uma experiência mais do que sensacional.

Por convite dos diretores fui transferido para uma nova filial da empresa em Campinas-SP, trabalhei também em home office por um tempo – período esse muito importante para afinar minha disciplina. Realmente foram muitos aprendizados. Para se ter ideia, nesta última empresa eu ganhava muito bem, acima de 10 mil reais mensais. Nos últimos meses antes de pedir demissão eu ganhava em média de 15 mil reais por mês.

Apesar de estar ganhando muito, ser novo (apenas 23 anos), de ter o orgulho da minha família, de realizar viagens internacionais patrocinadas pela empresa – para meus pais, que nunca tinham saído do Brasil isso era um orgulho gigantesco – eu achei que era hora de começar a empreender.

Quando comentei com meus pais que começaria uma nova empreitada na minha vida, apesar de o aparente apoio, não consegui sentir firmeza. Isso foi complicado, porque o feedback dos meus pais era muito importante para mim. A bem da verdade, ninguém de fato me apoiou nesse momento, e isso serviu como combustível para minha nova caminhada.

Será que estou pronto para o próximo passo?

O mesmo sentimento de raiva que eu cultivei e fiz valer a chance que ganhei como vendedor externo eu trouxe para essa nova etapa da minha vida, ou seja, para fazer as coisas acontecerem enquanto empreendedor. Eu estava ganhando muito bem e consegui acumular R$ 100.000,00 para investir em uma empresa. Era uma grana muito alta para mim e para a minha família também.

Mas mal sabia eu que, dependendo da situação, cem mil reais não é muita coisa para começar uma empresa. Eu acho muito importante deixar isso claro: “Sem gestão empresarial, a gente queima R$ 100.000,00 muito rápido”. Entretanto, para mim, naquele momento, era o maior dinheiro e a maior conquista que eu já havia conseguido.

Dessa forma comecei a procurar nichos para empreender. Em um momento da minha vida achava que o sucesso que eu queria alcançar no empreendedorismo estava no tipo de negócio que eu investiria. Atualmente – e olhando cuidadosamente para trás – afirmo que qualquer mercado é viável se for gerenciado por um bom empreendedor.

Cogitei investir em um negócio de papel toalha de banheiro. Minha sogra trabalhava em uma empresa desse ramo e o gerente aparentava ser muito bem sucedido – todos nós achávamos isso, mas talvez ele estivesse vivendo o mesmo drama que a maioria dos empresários enfrentam.

Estudei sobre o negócio e percebi que teria que investir pelo menos 60% da minha grana acumulada para adquirir o maquinário e mais 25% para comprar os materiais necessários para começar a produção – além do valor para alugar um espaço. A ideia era adquirir as máquinas, as bobinas de papéis, alugar um local e eu mesmo faria toda produção. No auge dos meus 23 anos isso parecia uma boa ideia, mas só mostra como eu era imaturo.

Porque eu afirmo isso?

– Primeiro, o investimento inicial que eu iria fazer praticamente ia levar todo meu dinheiro guardado.

– Além disso, minha pretensão era produzir a noite e durante o dia realizar tarefas como vendas, comercial, administrativo.

– Na época eu não tinha muito crédito, ia preferir pagar à vista por tudo (hoje em dia eu não comprometeria meu caixa e parcelaria o valor, dando tempo para a máquina produzir e ‘se pagar’).

Bom, resumidamente, era muito inexperiente e de fato eu ia quebrar rapidamente.

Lousa de vidro? Como assim?

lousa de vidro

Nessa mesma época um amigo meu tinha criado um novo tipo de lousa feita de vidro, chegou até mim e afirmou que não estava dando conta de concretizar todas as vendas em tempo hábil devido à alta demanda. Depois de uma conversa percebi que era uma empresa muito informal (funcionava na sala da casa dele), mas que tinha muito potencial.

Decidi investir todo o meu capital para adquirir 50% da empresa. Hoje em dia eu não faria a mesma coisa, e vou explicar os motivos:

– A empresa, naquele momento, não valia R$ 200.000,00.
– O faturamento mensal mais alto era de R$60.000,00, mas a média ficava na casa dos R$ 40.000,00.
– Existiam diversos impostos atrasados. Eu já sabia de uma porção, porém, a maior parte eu descobri só depois de fechar o negócio.

Esse último fato eu poderia ter evitado se realizasse uma due dilligence, que consiste em uma ampla diligência, uma grande pesquisa para verificar, por exemplo, se o registro da empresa está dentro dos conformes, se não existem encargos trabalhistas atrasados, qual o montante real dos impostos devidos, enfim, diversas coisas que poderiam ficar expostas se eu tivesse feito uma pesquisa adequada.

Mas eu nem sabia como fazer esse levantamento, para vocês verem o tamanho da minha imaturidade na época! Atualmente eu olho minhas anotações com perguntas que eu ia fazer na ocasião e acho engraçado o conteúdo do questionário, mas também afirmo que é uma delícia relembrar daquele menino de 23 anos, esforçado e sonhador, avaliando um negócio para ser adquirido ou não.

Estagnado, nunca!

Reforço aqui. O Felipe empreendedor atual não teria investido nessa empresa; ou não teria investido todo o capital existente. Entretanto, a preparação é algo que a gente alcança somente depois que nos atiramos. Aliás, a vida é assim. Se a gente esperar parado pra dar o próximo passo, ele não virá. Da mesma forma que na época eu não estava pronto para dar aquele passo, hoje eu não estou preparado para as mudanças que estou fazendo no meu grupo de negócios.

Se você acha que o próximo passo é confortável demais, pode crer que é um passo pequeno pra você. O próximo passo tem que ser levemente desconfortável, um pouquinho medonho e arriscado (controladamente), para fazer com que você realmente saia da zona de conforto e não fique estagnado.

Entretanto, eu preciso deixar outra coisa registrada aqui. Não me arrependo do que eu fiz; e se tivesse que voltar no tempo eu escolheria fazer tudo de novo, com certeza. Porque entendo que essas escolhas do passado, com erros e acertos, são responsáveis pela minha sabedoria de hoje. Ou seja, uma escolha diferente poderia apagar muita coisa que sei atualmente.

Porque estou comentando isso? Para mostrar que a decisão, mesmo que seja errada, se for manejada com esforço e trabalho duro ela poderá ser revertida e recompensada. No mundo do empreendedorismo o lucro intelectual costuma vir antes do lucro monetário; e é importante ter essa visão para entender e superar todos os obstáculos no meio do caminho.

Vamos empreender!

vamos empreender

A empresa mantinha um foco em comunicação visual. Fazíamos painéis, lousas de vidro, etc; devido ao fato do meu sócio ser do ramo de comunicação visual a gente realizava muitos trabalhos relacionados a adesivação e coisas do tipo.

Dentre as primeiras ações fizemos um maior controle financeiro, fechamento de caixa mais eficaz, registramos todos os funcionários informais, focamos nosso olhar somente para os painéis de vidro – deixando de lado os trabalhos de comunicação visual. Com esse trabalho organizado, começamos a crescer. Éramos a única empresa do ramo de lousas de vidro no mercado.

Entretanto, em pouco tempo uma empresa forte e já consolidada no mercado também começou a comercializar o produto e virou nosso concorrente. Já não estávamos mais sozinhos e rapidamente sumimos das pesquisas do Google – até porque nosso site era ruim… foi nessa época que eu me aprofundei em marketing digital.

Com as mudanças no marketing digital retomamos o crescimento. Quando atingimos nossos primeiros cem mil reais de faturamento estouramos um champagne! Vejo isso tudo com muito carinho; com todos os erros e acertos, foi uma trajetória muito gostosa. Queria agradecer aqui ao Jhonny, meu sócio da época, um grande amigo até hoje, que me ensinou muito.

Síndrome do Shark Tank

O nosso crescimento despertou a minha ‘Síndrome do Shark Tank’ – nome criado por mim mesmo. Eu assistia ao programa de televisão e percebia que todas as empresas que recebiam investimentos eram da área de tecnologia, ou eram empresas altamente escaláveis… e eu vendia lousas de vidro que precisavam se adaptar às paredes dos clientes (sem contar as personalizações com artes, tabelas, etc); ou seja, eu não conseguia produzir em escala.

Além disso, eu fazia uma projeção do futuro, observando toda a tecnologia a nossa volta e tinha certeza que a lousa, em algum momento, ia se tornar obsoleta e deixar de existir. Essa atmosfera estava me deixando paranoico! Foi quando eu sugeri – e convenci – meu sócio para que criássemos um grupo de empresas e que, nesse conglomerado, deveria existir empresas de tecnologia.

síndrome do shark tank

Alugamos e reformamos pesado uma casa na Vila Mariana, um bairro residencial tradicional de São Paulo; criamos um ambiente com várias salas e, a partir de então, estabeleci contatos com diversas empresas do mercado, sempre com proposta de investir em ideias de negócios. Muitas empresas se interessaram no modelo de negócio, como por exemplo:

– Agência de marketing digital
– Empresa de hospedagem de sites
– Desenvolvedora de aplicativos empresariais
– Agência de publicidade off line, que gerenciava eventos
– Agência de gerenciamento de carreiras
– Empresa de software de gerenciamento de clínicas e hospitais veterinários
– Infoprodutora, para trabalhar com influenciadores digitais
– Produtora de fotos e vídeos
– Torneios de poker
– Startup médica

Investimos até em cantor de funk, para se ter uma ideia! Pra amparar toda essa estrutura nós montamos uma célula de contabilidade administrativa, com contadores e administradores o suficiente para gerenciar aquele monte de CNPJ. Se você me perguntar como eu fiz tudo isso, eu não sei explicar.

Às vezes, menos é mais

Chegamos a ancorar 11 empresas (com CNPJ’s distintos) em nosso grupo. Trouxemos até o maior torneio de poker do mundo para o Brasil, o WSOP. Mas chegou um determinado momento em que, mesmo com o grupo crescendo, todo esse trabalho estava tomando muito do meu tempo pessoal. Era o ano do meu casamento e eu não conseguia nem imaginar como o grupo de empresas se comportaria na minha ausência para lua de mel de 15 dias.

Isso acontecia porque, como eu já disse, para um negócio dar certo, independente do segmento, ele precisa ser bem executado… e para uma boa execução, precisamos de bons profissionais – nesse caso, bons sócios. Meus sócios eram bons tecnicamente, mas faltava gestão, maturidade e vontade de fazer as coisas acontecerem. Não estou dizendo que meus sócios eram pessoas más, inclusive, todos são meus amigos até hoje.

Sabe aquele momento em que você, naturalmente, percebe que vai precisar trabalhar mais algumas horas pra fazer algo acontecer? Eu não via isso nos meus sócios, tanto que por diversas vezes eu mesmo precisei intervir. A constatação veio quando precisei focar minha atenção por 2 meses no projeto do torneio de poker e o grupo de empresas começou a degringolar. E o grupo não estava na mão de funcionários, estava sob gerenciamento dos meus sócios!

Nesse momento eu comecei a reavaliar todos os negócios e definir um novo foco. Eram pessoas do bem, mas até onde eu havia feito boas sociedades? Analisei até a minha sociedade inicial e decidimos que eu ia comprar a parte dele na empresa, mesmo com ela carregando algumas dívidas naquele momento. Estávamos em situações de vida diferentes e foi a melhor ideia para a ocasião.

Mudando o foco, novamente, para voar mais alto!

foco empreendedor

Com a saída do meu sócio original, estabeleci outra sociedade com uma pessoa altamente profissional que ajudou o negócio a crescer muito. Após analisar, decidimos sair de todas as outras sociedades e voltar nossas atenções somente para a empresa de vidro. Saímos do bairro residencial e migramos para uma área fabril para focar nossas energias e fazer o negócio crescer, o que de fato aconteceu.

Carregamos dívidas por até 4 anos – dívidas que sugavam todo o lucro que a empresa de vidro tinha. Dessa forma, e mesmo com trauma pela experiência negativa recente, decidimos expandir. Mas dessa vez, com foco no vidro. Criamos uma espécie de ecossistema relacionado ao universo do vidro, como serviços voltados a eventos para a arquitetura e suporte aos vidraceiros.

Nesse grupo de empresas do segmento de vidro atendemos projetos arquitetônicos variados – desde pequenas obras até revestimento de grandes edifícios com pele de vidro, sempre oferecendo serviços de alto padrão. Em praticamente 02 anos nossa empresa cresceu muito!

Atualmente eu tenho dezenas de funcionários e apresentamos faturamento médio variando entre 04, 05 milhões de reais mensais. Por favor, não absorva isso como prepotência da minha parte, entenda como um encorajamento, porque eu vim do zero e essas cifras, pra mim, são exorbitantes – e a realização de um sonho!

Graças a minha trajetória de vida entendo os empreendedores que investem muito mais na pessoa, no gestor que vê a sua frente, do que no tipo de negócio propriamente dito. Portanto, eu repito; um negócio, independente do nicho, não aceita pessoas fracassadas. O fracasso pode até existir, mas quando entendemos que qualquer fracasso será temporário porque a única saída é prosperar, conseguimos decolar qualquer negócio.

Eu sei o quanto é importante a gente fazer aplicações em nossos negócios e o quanto é raro, na internet como um todo, encontrar informações realmente práticas. Por esse motivo, por aqui sempre vou tentar trazer a teoria – não necessariamente muito aprofundada – e demonstrar como aplicar e implementar isso na empresa de vocês, seja lá qual for seu projeto. Estamos combinados?

 

Se você ficou curioso com algumas palavras, conheça um pouco mais sobre alguns termos citados no texto:

Overview: Visão ampla, de maior panorama.
Budget: Pode ser resumido ao orçamento disponível para realização de um trabalho.
Inside sales: Transações comerciais realizadas dentro da empresa. De certa forma os vendedores internos utilizam a estrutura da empresa para diminuir custos com deslocamentos e aumentar a produtividade.
Know how: Conhecimento e habilidade adquiridos através da experiência; sabedoria prática.
Feedback: Retorno, reação, ponto de vista, opinião, avaliação.
Due Dilligence: Processo de levantamento de dados e outras informações referentes à uma empresa ou negócio.

 

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